Iniciativa inovadora de Dourados (MS) vai produzir materiais de referência sobre o enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes indígenas

IMG_8262Foi realizada na última segunda-feira (3), a primeira formação do projeto de extensão idealizado pelo Comitê Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes (COMSEX/Dourados-MS), em parceria com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), sobre o enfrentamento à violência sexual de crianças e adolescentes indígenas das tribos Guaraní e Kaiowá do município de Dourados (MS). Entre as ações previstas por esta iniciativa está a produção de uma cartilha de orientações sobre o tema e um vídeo da Campanha Defenda-se, ambos em língua nativa. Além disso, espera-se que o projeto componha o Plano Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes do município.

Com o tema “Concepção de infância, juventude e família para os Guarani-Kaiowá”, a formação, ministrada pelo Prof. Levi Pereira (UFGD) e pela antropóloga Silvana Jesus do Nascimento (Doutoranda da UFRGS), foi destinada aos profissionais que estarão envolvidos em todas as ações do projeto, buscando discutir questões socioculturais que interferem na diversas formas de organização das duas etnias, no período que compreende as infâncias e nos papeis exercidos pelas famílias na educação e na proteção dos meninos e meninas indígenas contra a violência.

Neste primeiro momento estiveram presentes representantes da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), Centro de Referência Especializada em Assistência Social (CREAS), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Comitê Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes (COMSEX/Dourados-MS), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), além do Centro Social Marista Dourados e o Centro Marista de Defesa da Infância, que coordena a Campanha Defenda-se. A segunda formação para este grupo de profissionais ocorrerá no próximo dia 17 de julho.

Ainda neste ano devem ocorrer outras oficinas para os profissionais do CRAS e para a professores e educandos das escolas das aldeias Jaquapiru, Bororó e Panambizinho, que juntas somam uma população de cerca de 16.000 habitantes, em 4.739 hectares (47,39km²). Os locais foram escolhidos, considerando o número de pessoas e históricas situações de desestabilização de seus modos próprios de lidar com a violência, dado o alto índice de intervenção atual das agências governamentais.

Diagnóstico da realidade local

Além da formação, a equipe do Centro de Defesa e da Unidade de Dourados fizeram visitas nas aldeias de Jaguapiru e Bororó, que ficam na Reserva Indígena de Dourados, e na aldeia de Panambizinho, que é uma terra demarcada. Na ocasião, o grupo foi acompanhado pela antropóloga Silvana e pela Assistente Social do CRAS, Bárbara Nicodemos, e pode conversar com lideranças locais, como o diretor da Escola Municipal Indígena Tengatuí Marangatí-Polo, e do casal de rezadores Kaiowá, seu Jorge e dona Florisa, que se posicionaram sobre os principais desafios e possíveis resoluções para os problemas atuais que acometem as aldeias. A principal delas, o uso abusivo de drogas, notadamente o álcool, que acaba por motivar a desestruturação das famílias, a violência doméstica e o estupro. O casal acredita que projetos de resgate da cultura indígena ligados à reconexão dos jovens com a terra e com a agricultura poderiam minimizar os impactos do álcool nas aldeias.

Também dialogaram com o líder Reginaldo Aquino da Silva, que atua no posto de saúde de Panambizinho, e com a diretora da escola Pai Chiquinho, Maria Regina, que fica na mesma aldeia. Ambos reforçaram que o envolvimento cada vez maior dos indígenas com o álcool e outras drogas gera diversas violências dentro das aldeias. Inclusive, nos dias de festas como o natal e o ano novo, chegam a ser registrados casos de estupro coletivo contra meninas, que morrem após a agressão, ou se suicidam diante do total abandono e falta de amparo da comunidade. Há poucos casos conhecidos ou notificados de violência sexual contra meninos.

A partir dessas visitas e das formações que serão realizadas nas aldeias, espera-se reunir elementos suficientes para produzir a cartilha sobre enfrentamento à violência sexual de crianças e adolescentes indígenas e um vídeo da Campanha Defenda-se específico para este público. Um dos principais desafios dessa produção é a compreensão de infância para os Guaraní-Kaiowá, que não é cronológica. Inclusive, é comum que após o início do ciclo menstrual feminino, que tende a ocorrer entre os 11 e os 14 anos, a menina já esteja pronta para o matrimônio e para o primeiro filho. Da mesma forma, os meninos também passam por períodos de amadurecimento, aprendendo com os mais velhos os ofícios do homem, rituais, rezas e sabedorias da natureza.

No entanto, existem questões que os indígenas não admitem, como relações incestuosas, não consentidas, fora do matrimônio, a exploração sexual comercial, além do uso abusivo de álcool e outras drogas como já mencionado.

Outros materiais devem ser desenvolvidos, como um vídeo de registro das experiências em desenvolvimento e um documentário sobre experiências Maristas e não Maristas em projetos realizados com as populações indígenas da Região América-Sul.

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